É Nóix! - Chile, Surf, Terremoto e Tsunami

A idéia
Passar 10 dias surfando o centro sul do Chile - mais precisamente as ondas próximas à cidade de Pichilemu. São elas:

-         La Puntilla: point break de esquerda
-         Infernillo: point break de esquerda
-         Punta de Lobos: point break de esquerda
-         Puertecillo: point break de esquerda
Itinerário
Chegar em Santiago, alugar um carro, ir para Pichilemu e encontrar um lugar para ficar em frente à onda de Punta de Lobos.
Organização
Pranchas, capas, cordinhas (uma nova e resistente é legal - perder a prancha em Punta de Lobos é mandá-la para cima das pedras), roupa de borracha e parafina para água fria.
Passagens compradas, passaporte ok, algum dinheiro e cartão de crédito para emergências.
Reserva em um albergue em Santiago para a noite de chegada no Chile.
Assim iniciamos, no dia 18 de fevereiro, nossa viagem.
No aeroporto, a primeira surpresa: a cia aérea não estava cobrando as taxas para pranchas, o que, para nós, representava uma boa economia.
Chegamos em Santiago na madrugada do dia 19. Optamos por pegar um taxi do aeroporto, estava muito tarde e precisávamos do espaço de uma van. Fomos dormir.
No dia seguinte alugamos um carro e pegamos a estrada para Pichilemu.
Alugar carro no Chile não é barato. As empresas cobram, em média, 60 dólares por dia (com seguro e kilometragem livre) pelos carros mais baratos.
Chegando em Pichilemu, mais uma surpresa: a cidade estava lotada! Fomos em todos os hotéis e pousadas e foi, realmente, bem difícil encontrar um lugar para ficar naquela noite. Descobrimos, então, que hoje, a cidade é um dos destinos preferidos dos jovens chilenos que curtem praia. Para nossa sorte, a maioria esmagadora estava lá para dar uma curtida e não para surfar. Se Pichilemu for seu destino entre dezembro e fevereiro, é uma boa idéia sair do Brasil com uma reserva de hotel para os primeiros dias.
Depois de dois dias e duas noites em hotéis diferentes (os que tinham vaga), conseguimos nossa cabana em frente à onda de Punta de Lobos. O lugar (pousada) chama-se Cabañas Loica ( http://www.loicachile.cl/ ) e é a minha dica de hospedagem. A cabana para duas pessoas custa o equivalente a 90 dólares. Simplesmente alucinante! O administrador nos colocou na cabana mais alta, sendo possível ver a onda pela janela de casa.
Punta de Lobos é muito consistente e durante nossa viagem só não funcionou um dia - o vento norte, literalmente, destrói a brincadeira. A onda é bastante volumosa e forte, exigindo um surf de linha. Entendeu isso é show, sendo possível surfar com pranchas proporcionalmente pequenas, de tão perfeita que a onda é. O Carlos é alto (+ ou - 1.90m) e surfou quase todos os dias de 6'2'' e eu (1.68m), no final estava caindo com uma "meio fish" 5'6'', em ondas de 2 metros em média.
La Puntilla foi a escolha para os finais de tarde. Uma onda alucinante! Menos volumosa, menor, mais em pé e bem longa. A entrada pro pico é fácil (pelo menos até 1,5m) e a remada tranquila. Rola um crowd, por ser a ponta esquerda da praia da cidade, mas vale a pena.
Ficamos quase uma semana surfando estas duas ondas, comendo e dormindo. Rolou, também, uma tentativa de velejo, mas o vento estava estranho. Infernillo não estava no jeito e desistimos de surfar Puertecillo, por razões que não lembro mais. Dia 26 de fevereiro, sexta feira, arrumamos as coisas antes de dormir, planejando surfar na manhã seguinte e seguir para Santiago logo depois. Nosso vôo de volta sairia domingo (dia 28) bem cedo.
Às 3:40 da manhã do dia 27 (sábado), mudança de planos. O terremoto nos acordou, sacudindo forte nossa cabana. Depois do tremor, percebemos que as pessoas hospedadas na pousada estavam pegando seus carros e fugindo de lá. Após alguns minutos de indecisão resolvemos fazer o mesmo. Enquanto jogávamos tudo dentro do carro, olhamos para a praia e tudo parecia normal. Dois ou três minutos depois o cenário mudou drasticamente. O mar agora parecia um caldeirão, a água explodindo no cliff com uma força absurda e um barulho bastante intimidador vindo na nossa direção. Olhando para a praia, a uns 150 metros de onde estávamos, vimos um carro tentando sair e sendo pego pela onda. Analisamos a situação e optamos por tentar fugir de carro. Chegamos à estrada principal e rumamos para o hotel onde passamos nossa primeira noite em Punta de Lobos. Um lugar alto, com uma fogueira e algumas pessoas para conversar. Esperamos amanhecer e voltamos para a praia para vermos o que, de fato, havia acontecido.
Foi bem triste ver destruição num lugar que esbanja beleza. Mas, foi uma grande lição ver como os chilenos encararam o acontecimento. De onde estávamos, vimos muita organização (na medida do possível) e nenhum desespero, e uma polícia preparada e preocupada com a população e com os visitantes.
Seguimos, então, para Santiago. Alguns deslizamentos, rachaduras e buracos, todos devidamente sinalizados (ainda eram 8 horas da manhã!) e um engarrafamento na entrada da cidade atrasaram um pouco nossa chegada, mas às 15 horas já estávamos hospedados em um bom hotel no centro da cidade. Lá, descobrimos que não conseguiríamos voltar tão cedo para o Brasil.
Durante os dias em Santiago, pesquisamos notícias sobre o litoral, condição das estradas e trocamos emails com uma mulher que estava em Pichilemu. Decidimos, então, arriscar uma volta à Punta de Lobos para surfar. Alugamos novamente um carro e fizemos uma compra grande no mercado - muita água e comida para uns cinco dias.
Chegando lá, passamos no mercado local para ver se estava abastecido. Estava. As ruas já estavam praticamente limpas e tudo parecia normal. Fomos, então, analisar as ondas. La Puntilla estava diferente. O volume de água havia diminuído bastante, deixando o fundo bem mais exposto. O pico se afastou bastante da "ponta", quebrando mais para o meio da praia. Infernillo foi uma surpresa. Estava perfeito! Pequeno, mas alucinante! Punta de Lobos parecia normal, exceto pelo volume de água. Escolhemos um lugar para nos hospedar e arrumamos nossas coisas.
Na manhã seguinte, a mágica do surf. O pico em Punta de Lobos (as Tetas) não estava funcionando, mas a ultima seção da onda, que quebra em frente à faixa de areia da praia, era, por si só, a escolha do dia! Uma esquerda de 1 metro muito longa e perfeita. Na água, apenas eu, Carlos e um outro brasileiro que tínhamos conhecido no dia do terremoto. Surfamos sozinhos esse mar!
Depois do surf, falando com nossas famílias, ficamos sabendo que a esposa do Carlos tinha conseguido antecipar nossa volta ao Brasil para o dia seguinte.
Missão cumprida, com direito a despedida clássica! Galeria de fotos 

Um abraço e boas ondas!

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